quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Tribunal de Honduras acusa Zelaya de desviar recursos

Do Estadão Online:

O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, gastou quase US$ 6,5 milhões de fundos públicos em despesas com seus cavalos e sua moto, além de viagens, compra de joias e roupa e aluguéis, segundo um relatório divulgado ontem pelo Tribunal Superior de Contas. O relatório será enviado à Justiça do país nos próximos dias.
Zelaya foi deposto em junho. Desde então, o governo interino, liderado por Roberto Micheletti, tem rejeitado as propostas de retorno de Zelaya, mesmo após negociações com a Organização dos Estados Americanos (OEA) e sanções econômicas dos Estados Unidos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. Veja.

Aproveito a rápida notícia acima para tecer algumas considerações sobre o caso Honduras.

Parece-me que a atual situação de Honduras é algo momentaneamente incontornável. Digo isso por que não vejo, para um futuro próximo, um modo de tornar legítima a situação de qualquer dos hoje pretendentes ao poder nesse país. De um lado, Manuel Zelaya, presidente deposto (em cena no mínimo pitoresca, diga-se), que flertava com o chavismo ao convocar plebiscito com o intuito de perpetuar-se no poder. De outro, o governo de Roberto Micheletti, surgido de movimento que, a meu ver, era legítimo até o instante em que ultrapassou as raias da legalidade.

Explico melhor. Manuel Zelaya foi deposto em junho quando, após ser alertado pelo Congresso e intimado pela Suprema Corte de Honduras a não fazê-lo, convocou plebiscito que poria à população de Honduras a questão da possibilidade de reeleição, o que contraria o texto constitucional daquele país. Arvorados, então, em uma relativa legitimidade, os oposicionistas, liderados pelo hoje presidente interino Roberto Micheletti, orquestraram a deposição de Zelaya, porém o fazendo de forma inconsequente, desrespeitando até mesmo o inafastável direito ao contraditório de que deveria ter disposto Zelaya. Isso sem contar, claro, com o modo grotesco e, de certa forma, cômico com que se deu a expulsão deste.

Não bastasse tudo isso, surgiram, de todos os cantos do mundo, palavras de apoio a Manuel Zelaya, condenando (o que acho justo) o modo como se deu sua deposição. Acontece que os esforços envidados pelos apoiadores olvidavam o fato de que Zelaya era, ele próprio, uma ameaça maior à democracia hondurenha. Assim, vimos manifesfações de apoio incondicional de atores internacionais como OEA, União Européia etc., sem falar nas restrições e sanções econômicas por eles impostas ao já sofrido país da América Central. Como Zelaya parecia se alinhar à causa chavista, todos os países que compõem o bloco de apoio à tosca figura de Hugo Chávez e ao seu “socialismo bolivarianista” formaram uma espécie de tropa de choque em favor do presidente deposto. Como exemplos, podemos citar o Equador de Rafael Correa, a Bolívia de Evo Morales e, por que não?, o Brasil de Lula (ainda que de modo mais discreto). Até aí, tudo parecia lugar-comum. O que trouxe um pouco mais de estarrecimento foi o apoio do governo dos Estados Unidos de Barack Obama ao retorno de Manuel Zelaya ao poder. E este se deu de modo contundente, até mesmo com demonstrações práticas, como a cassação dos vistos de parlamentares hondurenhos enquanto da vigência do poder interino.

Diante desse pequeno apanhado, apenas me resta a incerteza quanto ao futuro próximo deste país da América Central, que, embora pequeno, tem tido vários holofotes a si direcionados, talvez porque nele se esteja a ver uma das poucas reações (capenga, por óbvio) ao ímpeto dominador da ideologia capitaneada pelo presidente venezuelano Hugo Chávez. Talvez somente uma terceira via possa trazer bons ventos ao sofrido povo de Honduras...

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